sexta-feira, 29 de julho de 2011

Overdose humoristica

Semana

domingo, 24 de julho de 2011

MATUTO NO CINEMA

E o matuto, rapaiz?...

Anarfabeto de pai e mãe – e parteira! – e sai do Sertão pra Capital, pra assisti um fíume istrangeêro legendado! Quando ele volta pro Sertão, pois ele nun conta o filme todinho?

Ma rapai... Eu fui lá na capitá, rapai. Eu assisti um filme autamente internacioná! Pense num filme internaciná? E tem uma coisa: um filme mafioso! Um filme mafioso! Ói, tinha dois Atista! Tinha um Atista qui sufria e o Atista qui sauvava! 

Meu cumpade, o Atista Qui Sufria: pense num cabra corajoso! Rapai, o caba nun tinha medo de nada não, rapai! Rapaiz, o bandido, o bandido, pirigoso que só buchada azeda, invocado qui só um fiscal de gafieira, séro qui só um porco mijano, tinha um dedo da grussura de um cabo de foimão.

Amarraro o Atista cum imbira. E tem uma coisa: imbira dos Istado Zunido, nun tem quem se solte não, rapai! Amarraro o Atista cum imbira, butaro o caba sentado, à força, numa cadeira. Aí, chegou o Bandido. Butou o dedo na cara do Atista, e disse:

- Nun sei que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei o que lá!

Tá pensano que o Atista teve medo, rapai? O Atista, amarrado cum imbira, rapai, teve que uvi tudinho! Mai, muito do tranquili, olhô pra cara do Bandido e disse:

- Nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, o quê, mermão?...

Mai rapaiz, esse bandido inchô feito um cururu no sal, nun sabe? Isfregô o dedo na cara dele assim... e disse:

- Nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, seu fila da puta!...

E tu tais pensano que o Atista teve medo? Ô xent!... Amarrado cum imbira, do jeito qui tava, ficô muito do tranquili, olhô assim pu bandido e disse:

- Nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, um carái!...

Mai meu cumpade, esse bandido pegô um á!... Pense numa pegada de á!... Ma rapai, foi uma pegada de á tão muidida do pôico! Aí, puxô uma chibata feita de virola de pineu de caminhão, nun sabe? Mais cumprida do que uma língua de manicure, de-lhe uma chibatada tão aparentada a um coice de besta parida, qui ficou escrito assim, da taba dos quêxo pa o porta-urelha do individo: F I R E S T O N E!...

Eu sei qui nessa hora, no mêi dos bandido, tinha um, qui era do time do Atista, rapai. Do time da gente, nun sabe? E ele tava camuflado, feito rapariga de pastô. Nun tinha quem discunfiasse, rapaiz. Camuflado lá pur dênto! E ele tinha um relóge puxado pá telefone. Aí, ele foi pum pé de parede, cum o relóge dele, aí, passô o bizu pra Puliça qui tava lá imbaxo. Ele pegô o relóge e disse: 

- Nun seio  que lá, nun sei  que lá, nun sei  que lá, nun sei que lá...

Conto tudo à Puliça! A Puliça lá imbaxo, nos carro, uvino tudinho pelo rádio! E a puliça dos Istado Zunido nun se veste de puliça não! Se veste de adevogado! Aí, a puliça, dento dos carro, só feiz pegá o rádio e chamá os carro tudin dos Istado Zunido, rapai!

-- Acunha, acunha, acunha, acunha!... E todos os carro! Acunha qui o negóço é séro!... Acunha, acunha, acunha... 
Ai, os carro acunharo!... E os carro acunharo, acunharo... Ói, era mais carro em cima do préidio, de que romêro in cima de Pade Ciço!

O préidio, rapai, era um préidio grande! Tinha... uns dois ou três andá! Ô era... um Colégio de Frêra, ô era uma Prefeitura. Eu sei que nun tinha quem entrasse. Um préidio todo de vrido, infeitado feito pintiadêra de rapariga, nun sabe? Aí, a puliça: tome corda, tome corda, tome corda, tome corda... Quando a gente pensava qui era a puliça qui ia subi pu fora do préidio, pa salvar o Atista, aí veio o momento mais arripiadô do filme, rapai! 

Foi quando chegô o Atista Principau, o Atista Salvadô!... E ele vei nun avião daquele... daquele avião qui tem uma penêra incima, nun sabe? Aí, o avião vei... E o avião nun vuava não, era parado! O avião ficô parado incima da Prefeitura!

Pela capota de vrido, a gente já via o Atista: o Atista forte, cum uns peitão, dois cinturão de bala, uma ispingarda da grussura de um cano de isgôto, rapai. Aí, o Atista ficô assim na porta do avião. Ó o nome do Atista: Arnô Saginégui!... Agora, nun é desses Arnô Saginégui do Sertão, qui dá no cu de todo mundo não! É Arnô Saginégui importado! Ô é da Chequilováquia, ô é da Bolívia, tá intendeno?

Eu sei qui o Arnô Saginégui ficô na porta do avião, aí o chofé do avião olhô pra ele e disse:

- Acunhe!... Pode pulá!

Aí, ele pulô lá de cima! Pulô lá de cima, bateu no telhado, furô a laje, bateu memo no lugá aonde o Atista tava preso, cum os bandido. Pegô os bandido tudo disprivinido, cumeno cuscuz cum leite, rapaiz!

Eu sei qui nessa hora, o Atista pegô a ispingarda, disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun sei que lá, nun sei que lá....

Ói, ele matô tudinho!... Aí apariceu mai bandido. Vixe!... E foi briga de sê midida a metro! Ele deu um tabefe no porta-urelha de um caba lá chamado Mané Capado, qui ele bobuletou uns dois palmo e caiu no chão, feito uma jaca mole. 

Aí teve um bandido, rapaiz, que omilhô o Atista, com uma dedada aonde as costa muda de nome. Meu cumpade, êsse home, ofendido na região glútia, virô uma fera! E, entre a rapidez da dedada e imediatidade do êpa, deu-lhe um berro nas oiça do sujeito, qui iscurregô na froxura e caiu sentado!

Nessa hora, meu cumpade, o Atista partiu pra cima dele, com o gênio de cento e cinqüenta siri dento duma lata de querosene, deu-lhe um supapo no serrote dos dente, que choveu canino, molar e incisivo por três dia no Sítio Boca Funda!

Ai, nessa hora, meu cumpade, o Bandido Principal saiu nun derrapo de velocidade! Aí, o Atista deu-lhe um chuvaréu de bala, meu cumpade, qui a gente teve que se abaixar dentro do cinema! Aquelas letrinha qui passa lá no filme... Ele derrubô umas cento e quarenta! E eu ainda peguei umas quatro. Tá aqui, pra você vê!...

Direitos Autorais: Jessier Quirino